Consorte emproado
Tu que te arraiga num firmamento tão alto
crendo ingenuamente que tudo pode ver
e que tem nas mãos o controle
do sorriso mais enigmático
Rasgaste ainda mais minha chaga aberta
quando a incógnita pareceu-lhe 
parcialmente revelada
Maquinaste uma obra
de invejável e aparente exatidão
Possibilitou atuações inocentes
mas notavelmente persuasivas
e tua utopia almejada travestiu-se
de modo impecavelmente verídico
atravessando cada vez mais recintos
Restou a minha ferida perpétua
seguir sua natureza e sangrar continuamente
porém sem deixar de embarcar
na busca de qualquer coerência
douto no entanto
de não possuir responsabilidade
para com o tal sorriso tão tocante
Mas nessa campanha
ele diante de mim surgiu
ladeado de certo conforto,
desconstruindo a alegoria
que tu, meu caro consorte emproado
caprichosamente compôs.
Mas tu sempre te empenhas
em dar a seu imaginário um status ontológico
e bastante sofrível sua empreitada se faz
Hei de apiedar-me com sua dor,
entretanto encontro-me visivelmente acuado
desconhecendo qualquer ação assertiva
que possa saná-la
Resta a esse ser fraco
resguardar-se da própria prostração
Diante de mim aquele sorriso desenha-se
mas sempre o julgo esfinge
e como tal, o sinto perturbador
todavia, me torna também sorridente
Me trafego em rompantes
aprazíveis ou agoniantes
saudando o equilíbrio
em que estive acomodado por muito tempo
Contudo parece-me plausível
aceitar que ele se revele a mim
dolorosamente plausível
Não me desgarro entretanto
de minha ciência
e considero meu álibi 
para com sua existência
Autônomo suficiente me parece
e por querer próprio
apresenta-se para mim
Porém sempre enigmático
subversivo
protagonista em meus rompantes
presente na cobiça
de meu consorte emproado
Meu caro consorte,
tão determinado
e manipulador.
Terminamos por sofrer
ambos nesta trajetória
Talvez se invertêssemos
nossas circunstâncias
menos dor poderia haver
Eu nunca me empenharia em concretizar
qualquer capricho como este que tentaste
não me desapegaria jamais de minha calmaria constante
deixaria que meu consorte seguisse almejando em suas mãos
o controle do sorriso mais enigmático.
Não compreendo por que ele se mostra para mim
e impotente permaneço
diante deste infortúnio
Clamando desesperadamente
pela solideza que docemente me acolhia


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog